Era uma vez uma menina chamada Mafalda. A Mafalda sempre foi uma criança saudável, crescendo feliz com os seus pais e avós em Azeitão. Nunca deu problemas até ter ingressado num colégio privado perto de sua casa, onde toda a sua vida mudou.
Foi no colégio que a Mafalda começou a perceber que afinal era mais giro brincar à apanhada com os rapazes do que com as raparigas, situação que lhe trouxe variados problemas, excepto nas notas. A Mafalda sempre teve boas notas. Foi ainda no colégio que ela conheceu o seu melhor amigo, o Professor de Biologia. Para a Mafalda, o seu professor sempre foi mais que um amigo, mas devido à enorme diferença de idades verificada nunca pode verdadeiramente confessá-lo, jocando apenas com o assunto. Ao longo dos anos a amizade avançou de um simples "dar bem" entre aluno e professor para uma troca imensa de diversos tipos de afectos, como dar 20's nos testes, trocar guloseimas e ainda falar pela internet. Foi assim que a Mafalda ficou com 20 a Biologia.
A vida libidosa activa da Mafalda prolongou-se durante os seus 6 anos no colégio, atingindo assim um patamar de elevada satisfação entre os homens, com os quais vivia e compreendia bem.
Um dia a Mafalda acabou a escola e entrou na faculdade. Como tinha muito boas notas, entrou em Medicina, tal como os seus pais queriam. Os pais da Mafalda eram os dois médicos, e a Mafalda achava que também queria ser. Assim, começou o seu primeiro ano, onde percebeu de imediato que aquilo não era vida para si. A única coisa que lhe interessava era o álcool e os homens. Se bem que os homens começaram a deixar de ser interessantes. A Mafalda começou a arranjar muitos problemas com eles e a ter uma vida amorosa desgraçada. Ainda assim, o antigo professor de Biologia continuou sempre do seu lado, eterno melhor amigo.
Chegado o fim do primeiro ano de faculdade a Mafalda chumbou num exame muito importante, na disciplina de Anatomia, onde atingiu o fundo, percebendo que tinha de mudar de vida. Informou os pais que ia desistir do curso, mudando-se para Literatura, notícia que não foi bem recebida. Assim sendo, a Mafalda revoltou-se com o mundo, entrando de facto para o curso que queria mas com o eterno desgosto dos pais, que a deprimiu.
Em literatura, a Mafalda reparou que havia uma enorme população de lésbicas naquela área. Tendo já tido contacto feminino raro e experimental na sua vida, a Mafalda começou a achar que era bissexual, envolvendo-se com inúmeras raparigas do seu curso, já que nas populações homossexuais o conceito de monogamia não é tão fortemente defendido como nas heterossexuais.
Ainda assim a Mafalda não conseguia deixar de pensar no seu professor de Biologia. Com o passar dos anos a Mafalda tornou-se numa mulher bem constituida, algo que não passava despercebido ao seu professor, e este continuou o homem alto, moreno, e atraente que sempre foi. Porém, ela sabia que todos os avanços seriam inúteis, pois o professor nunca a amaria.
Com isto, a Mafalda continuou a sua jornada bissexual, chegando ao ponto de se tornar apenas lésbica. A Mafalda odiava todos os homens à face da terra. A Mafalda acabou por se apaixonar por uma colega sua, a Consuela, uma espanhola emigrada em Portugal, com quem foi viver com o intuito de ser feliz para sempre.
Passados 5 anos de vida conjunta, a Mafalda e a Consuela quiseram criar família juntas. Sendo impossível a fecundação entre duas mulheres, a Mafalda contactou o seu querido professor de Biologia para ser este o pai da criança. O professor rapidamente acedeu, tendo porém decidido que o depósito seria feito de forma não natural, para não haver nenhuma traição à Consuela. Ambos tomaram esta decisão como uma desilusão, pois ansiavam, principalmente a Mafalda, por um contacto amoroso que nunca tinha desvanecido.
16 anos se passaram e a Mafalda era feliz com a Consuela, e o seu filho Sebastião, como o el rei desejado. O professor de Biologia nunca perdeu o contacto com a sua antiga aluna, tendo-se tornado inclusive como um tio para o agora crescido Sebastião, tomando funções como levá-lo ao futebol, à escola, e ainda a concertos musicais de bandas moderadas Pos-Punk e jornadas de música clássica da Gulbenkian.
Um dia o Sebastião estava em casa, e quis experimentar um jogo novo. A Consuela só gostava de Windows, mas os gráficos do iMac da Mafalda eram muito melhores, então foi a esse que o Sebastião se dirigiu. A caixa de correio electrónico estava aberta, e foi assim que o Sebastião leu uma troca de e-mails entre a sua mãe e o professor de Biologia, onde conversavam sobre este ser o seu verdadeiro pai. Sebastião acreditava que a fecundação entre mulheres era possível, até àquele dia.
Feito isto, Sebastião pegou na sua mota e dirigiu-se a casa do professor, que viva ali perto. A sua condução era raivosa e descuidada, e sendo assim teve um acidente com um Mazda MX5 verde escuro descapotável.
Sebastião ficou deitado imóvel no chão, quando de repente viu Mafalda sua mãe a olhar para si. Tinha sido ela a bater-lhe. A Mafalda que ainda se lembrava das aulas de SBV do primeiro ano de medicina salvou o filho. Este contou-lhe que sabia toda a verdade, e escapuliu-se na mota para ir confrontar o Professor, sendo que a Mafalda foi a correr atrás dele. A correr de carro.
Em casa do professor, este teria pressentido que algo estava mal, tendo assim um AVC no chuveiro. Quando a Mafalda e o Sebastião chegaram a casa do professor, encontraram a Consuela nua na cama e a porta da casa de banho trancada com a água a correr lá dentro. A Consuela tinha ido ao computador da Mafalda depois de o Sebastião ter de lá saído e ficou tristíssima por descobrir que a Mafalda não a amava, e que continuava muito heterossexual por dentro e com desejos pelo seu professor de infância. Numa tentativa de irritar a Mafalda, tentou então fingir que tinha um caso com o professor, mas a Mafalda não acreditou ser possível, atirando-se com raiva à Consuela e matando-a com uma pancada no nervo auricular, ramo do plexo cervical.
Como a Consuela era uma imigrante espanhola ilegal, Mafalda enterrou-a pois ninguém ia reclamar a sua ausência. Enquanto isso, Sebastião, que adorava o professor, encontrou-o no chão da casa de banho e conseguiu chamar o 112 a tempo.
No hospital, o professor acorda e vê-se rodeado pelo Sebastião e a Mafalda. Esta confessa-lhe que sempre o amou, que a Consuela está fora do caminho e que o Sebastião sabe de tudo. Beijam-se apaixonadamente, não podendo porém consumar o seu amor ali mesmo, pois o professor tornara-se impotente desde o dia em que doou o seu esperma à Mafalda. Sebastião espreitou o beijo dos pais pela porta do quarto do hospital mas ficou contente, perdoando-os pela mentira. Sebastião nunca gostou muito da Consuela por ela ser uma emigrante, portanto sofreu pouco com a sua perda.
Como uma família feliz, o Sebastião a Mafalda e o professor foram todos viver juntos. Um dia, o professor confessou ter uma filha de uma porca que tinha engravidado, nos tempos que era professor da Mafalda, e que gostava de a apresentar. A Mafalda não ficou muito chateada e concordou e o Sebastião ficou entusiasmado por conhecer a sua meia-irmã. Chegada Maria, a rapariga, a casa da família feliz, cruzou olhares com Sebastião e reparou que.. este era o seu namorado. Sebastião não levava as namoradas a casa porque lá não podiam ter sexo à vontade, mas no seu Honda já podiam. Sebastião desatou a chorar mal viu que o seu amor era a sua meia-irmã. A Mafalda e o Professor ficaram meio abananados com a situação. Mandaram Maria embora e deixaram o Sebastião em paz no seu quarto, a sofrer sossegado. Pela manhã, Mafalda foi ao quarto do Sebastião levar-lhe sumo de laranja e pão com queijo pelo pequeno almoço, e quando abre a porta depara-se com o seu filho enforcado num cabo de rede no candeeiro.
O drama foi demasiado pesado para o casal feliz se aguentar. Assim, a Mafalda e o seu eterno amor, o seu professor de sempre, separaram-se, sendo que este deu sozinho entrada num sanatório, enquanto Mafalda foi para o Uganda, como missionária, vivendo ambos assim até ao fim dos seus dias.
E isto, meus amores, é que é ter uma verdadeira pancada nos cornos.