22 de novembro de 2010
"a" cirurgia
Acabei de sair do bloco operatório. Que frase de sonho. Nada melhor pela manhã do que hora e meia a remover um carcinoma basocelular, seguido de um retalho nasal, dentro de uma bata esterilizada que faz pandan com a touca e máscara.
Por mais irónico que soe, isto é, de facto, uma actividade matinal bastante interessante. Desde que a pessoa que está na maca não seja o nosso avô. Que era.
"Então filha, estás-te a sentir bem?" "Sim pai, apesar da pessoa que eu estupidamente mais amo neste mundo estar com a aparência de quem apanhou um tiro à queima-roupa no meio do nariz, e de o buraco desse mesmo tiro estar a jorrar de forma muito enérgica variados repuxos de sangue, estou-me a sentir lindamente."
O truque é distrairmo-nos com qualquer coisa. Eu achei que não tinha mal nenhum aproveitar o facto de o cirurgião do meu avô ser a coisa mais atraente que eu já vi passar num hospital. Num hospital fora da televisão,entenda-se.
-Mafalda, o que nós vamos fazer ao teu avô é cortar aqui e ali, estás a ver?
-Estou, estou..
-Pronto sabes que estes carcinomas não costumam metastizar, não sabes?
-Sei, sei..
-Então vês, não há nada para te preocupares, depois a parte mais complicada é o retalho mas o teu pai já te deve ter falado imenso sobre estas coisas.
-Falou, falou..
-Estás bem, tens dúvidas?
-Não, não..
Não me babei, nem nada do género! Que horror. Mas quando for grande quero um destes em casa.
Não me babei, nem nada do género! Que horror. Mas quando for grande quero um destes em casa.
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