14 de março de 2011

brincar aos médicos - parte l

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E vai mais um. A coisa começa muito normalmente, cheia de boa educação e mordomias, exceptuando os inúmeros momentos em que a doutora pára e especa para o meu túnel. Que boa ideia a tua, futura doutora Mafalda, vires de cabelo apanhado com um buraco de 12 mm na orelha para o teu primeiro dia de estágio, não vá ele tentar desfarçar este tribalismo que decidiste fazer já lá vão 3 anos. Ainda por cima vim com o branco, perdi o castanho sabe Deus onde e como.

Hoje é dia de criançada, e confesso que estes são dos meus favoritos. Certo, certo, eu não morro de amores por crianças.. quando elas ultrapassam os 3 anos. Até lá os pequenotes limitam-se a parecerem Nenucos adoráveis que me apertam a mãozinha e que não se queixam de rigorosamente nada. Coisas fofas e saudáveis que não reclamam, haverá algum paciente melhor?

O primeiro rebento ganha a minha simpatia a partir do momento em que a única palavra que sabe dizer, com 1 ano, é Benfica. E cuja bebida favorita é galão. Hajam boas mães neste mundo! Muito sinceramente, crianças que bebem leitinho e dizem papá e mamã há muitas, e hoje em dia ser original parecer ser o mais moderno dos mandamentos, promulgado por várias marcas. Irónico.

Entre um benfiquista ferrenho e uma menina com uma notória monocelha e uma garganta que se abre e geme como a de uma senhora, venha o diabo e escolha. Soou dúbio? Soou. Mas na verdade a comparação passa pelo facto da miúda ser capaz de gritar e soluçar de tal forma que só a uma mulher em sofrimento se pode comparar. O comum bebé não soluça assim, e um homem muito menos.

Entra-me então pela porta uma rapariga que se assemelha a uma jovem judoca norueguesa, ou de qualquer outro país em que 80% da população é loira como lixívia. Mas afinal diz que é portuguesa e faz luta greco-romana. Pergunto-me de onde surgirá a ideia de alguém com 13 anos desenvolver interesse por um desporto tão peculiar. Olha mãe estive aqui a pensar, e aquilo que eu quero mesmo fazer é andar à pancada como faziam antigamente! Modernices. A conversa de consultório já é diferente, o que é que comes, o que é que fumas, o que é que bebes.. come que nem uma lontra mas não ingere álcool. Ai que menina tão linda, exclama com entusiasmo a minha tutora claramente anti-vamos apanhar uma piela e ser felizes.

E não consigo pensar em mais nada o dia todo. Conforme ela começa a explicar a imensidão de dói-dóis que o alcoolzinho faz às pessoazinhas, a minha cabeça associa automaticamente o meu fracasso de vida académica com o meu sucesso de vida boémia. Se eu podia achar que o facto do 13 ser o meu novo 18 se deve a eu não mexer a ponta de um corno? Podia, mas não era a mesma coisa. Não não, se tens más notas é porque bebes e chegas às aulas e não consegues decorar um capítulo inteiro só de o ouvir! Tristeza Mafalda, tristeza. Estuda e cala-te mas é, a ver se não acabas a estagiar num centro de saúde para a vida.

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